Como podemos, por meio da tecnologia, criar e incentivar um ecossistema que utilize o resíduo sólido como insumo para uma nova indústria baseada na reutilização criativa (upcycling)?

Cenário

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) são gerados cerca de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) ao ano no Brasil, e estima-se que ao menos 30% se trata de resíduos secos com potencial de reciclagem (plásticos, papelão, vidro, alumínio). No entanto, apenas 3,2% dos RSU são reciclados no país, e no Recife esse valor é ainda menor: apenas cerca de 0,02%, de acordo com o SINIR.

Ao enviar os resíduos para os aterros sanitários, as cidades acabam gastando grandes somas de dinheiro com o processo de coleta, transporte e disposição final do lixo. Além disso, a destinação inadequada dos resíduos pode gerar problemas ambientais e de saúde pública, como a contaminação do solo e da água, a proliferação de vetores de doenças, entre outros. Por outro lado, se os resíduos fossem devidamente separados e encaminhados para reciclagem, seria possível gerar receita a partir da venda dos materiais recicláveis e da transformação em novos produtos e gerar emprego e renda em toda a cadeia produtiva. Essa oportunidade é literalmente enterrada nos lixões e aterros sanitários.

Percebendo essa conjuntura, na capital pernambucana avança um grande projeto intitulado “Recife Limpa”, que já prevê várias ações focadas no aumento da reciclagem na cidade. No entanto, a reciclagem é apenas um dos possíveis destinos diante do potencial econômico do lixo reciclável. O ganho não pode se resumir ao retorno do reciclável à cadeia industrial primitiva da embalagem, como o papel voltar a ser papel reciclado, o plástico voltar a ser plástico reciclado e assim por diante. Esses insumos podem ser reaproveitados ou transformados, gerando produtos de valor agregado muito mais altos.

Esse é o conceito de upcycling, onde os resíduos são transformados em produtos de maior valor e utilidade, utilizando técnicas criativas e inovadoras. Isso significa criar novos produtos a partir de materiais que, de outra forma, seriam descartados, evitando assim a necessidade de extrair novos recursos naturais. O upcycling envolve tanto a transformação como o reaproveitamento, e pode resultar em produtos únicos e originais que gerem renda para a população mais vulnerável, promovendo uma economia circular e inclusiva.

Aqui no Brasil, ainda, não se conhece nenhuma iniciativa escalável nem que incentive e promova essas práticas. É preciso fomentar e criar o ambiente propício para facilitar o acesso a materiais recicláveis aos empreendedores de upcycling, gerar uma vitrine de produtos provenientes de transformação desses resíduos, incentivar a indústria de maquinário para dar escala a esse movimento e ao comércio além das fronteiras locais.

Principais dores

  • Altos custos financeiros, ambientais e sanitários pelo grande volume de resíduos sólidos urbanos destinados para aterros;
  • Preço de venda de insumos recicláveis muito baixo, impactando na receita dos catadores e cooperativas;
  • Baixo valor agregado dos resíduos coletados destinados à cadeia da reciclagem;
  • Falta de incentivo e visibilidade para o mercado de upcycling;
  • Dificuldade de sustentabilidade econômica de um programa de coleta seletiva centrada na logística pública;
  • Artesãos, artistas e pequenos empreendedores em situação de vulnerabilidade social a despeito das oportunidades não exploradas em torno da economia verde.

Resultados Esperados

  • Surgimento de novos modelos de negócio baseados na transformação e reaproveitamento dos resíduos sólidos;
  • Surgimento de uma “indústria” que permita escalar o movimento “faça você mesmo”;
  • Surgimento de novos artesãos, artistas, micro empreendedores e startups gerando valor econômico a partir do uso de resíduos sólidos como insumo;
  • Surgimento de comunidades de makers, preferencialmente de periferias, que solucionem problemas urbanos locais relacionados ao lixo;
  • Surgimento de novos artistas urbanos que transformem o resíduo em novos produtos com valor agregado;
  • Geração de novas oportunidades de renda para população.

Informações Complementares

Panorama dos resíduos sólidos no Brasil (2021 - ABRELPE)

Portal Recife Limpa

Pontos de coleta seletiva e resíduos do Recife

Dados de pesagem de coleta de resíduos no Recife

Lei Municipal nº 19.026/2022 (Código de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Município do Recife)

Plataforma Upcybom

Exemplos de movimentos makers que transformam resíduos em novos produtos

Objetivo de Longo Prazo

Geração de um novo ecossistema econômico na cidade baseado no upcycling, estimulando a inovação e o empreendedorismo e criando novas oportunidades de trabalho para população.

Indicativos de Sucesso

  • Ampliação da coleta seletiva municipal;
  • Redução do volume de resíduos sólidos urbanos destinado a aterros sanitários;
  • Aumento do número de empreendedores e startups que trabalham com upcycle;
  • Aumento da quantidade de produtos derivados do upcycling;
  • Aumento de receita de produtos derivados do upcycling.

Riscos

  • Baixa adesão e falta de engajamento de qualquer um dos atores envolvidos no ecossistema;
  • Falta de incentivo financeiro e investimento que motive a execução de ideias;
  • Dificuldades na logística de armazenamento, transporte e separação de tipos muito específicos de insumos;
  • Dificuldade de competir com produtos convencionais no quesito preço, gerando dificuldade de vendas e se tornando insustentável economicamente;
  • Deficiência na engenharia de marketing, que não crie a comunidade periférica de makers;
  • Desconhecimento ou falta de compreensão dos atores envolvidos com a mobilidade urbana
  • Dificuldade de mapear os negócios emergentes do upcycling.